Entre pausas e retomadas eu acabei demorando quase três meses para finalizar Cogumelos no Quintal. Eu curti demais o caminho e a expansão que foi tomando o desenho no digital.
Dando o tempo necessário para consolidar algumas ideias enquanto usava os rascunhos de papel como apoio. Depois de quase um ano com a wacom eu acredito que consegui me adaptar.
Acabei trocando a cor da maioria das coisas várias vezes para conseguir uma atmosfera de deserto. Eu ainda tenho muita dificuldade e desinteresse com as cores e acabo não avançando para além de uma colorização simples.
Porém esse processo me ajudou a pensar mais sobre a intenção de cada objeto no amontoado das cenas, e sobre a escolha das paletas que ajudam a representar um determinado sentimento. Na maioria das vezes o atalho pegar alguma paleta do Moebius pra me ajudar sempre funciona.
Além do treino, queria apresentar novos personagens e trazer de volta alguns elementos que eu tinha deixado pra trás: uma história em uma cena só, personagens de cultura pop aleatórios espalhados na cena e balões de fala.
A decisão de fazer o Cogumelos no Quintal com calma foi crucial para começar a curtir o processo completo no digital. O objetivo inicial da arte era não ter falas e ter outras memórias, mas foi tomando outros caminhos.
Com 30 anos completados recentemente queria transmitir o estado das coisas, eu acredito que esse último trabalho traz esse amadurecimento de forma e sentimento para na ilustração. Um resgate do que ainda é importante para o meu desenho e onde eu quero alcançar.
Referências e inspirações.
Essa narrativa de consciência flutuante com certeza é influência dos episódios do podcast Elefantes na Neblina, que consequentemente me levou até os cogumelos.
Enquanto finalizava eu consumi algumas coisas sobre o assunto, como exemplo os documentários do trabalho do Michael Pollan com psicodélicos e o Fantastic Funji que é mais focado em espécies e origem.
Tentei seguir uma lógica das espécies alucinógenas no desenho, mas desisti no meio do caminho e sai desenhando todos que via de referência nas pesquisas.
Um dos elementos que eu mais amo desenhar são os barris do Donkey Kong esteve de volta, em especial o de ícone de explosão, que é o único que você não tem controle de quando quer sair e não sabe pra qual direção ao certo ele vai te enviar. Você só precisa se lançar.
Isso serviu de metáfora pra tanta coisa desde que comecei a desenhar, mas aqui casou perfeitamente com o efeito alucinógeno nos personagens e sobre acessar áreas esquecidas do cérebro. Um efeito completamente imprevisível.
O local da cena é o bar e restaurante que eu mais frequentei esse ano, o Kintal do Barril fica localizado em Arujá e é um dos melhores lugares para comer e beber na cidade!
Eu coloquei uns Glooms porque eu achava que esse Pokémon era uma espécie de cogumelo mas na verdade é uma flor (Rafflesia), mesmo assim adoro a vibe lesada e chapada dele. a paleta de cores também combinou com o resto do cenário.
Na ilustração, o Gato de Cheshire ia fazer referência ao gato do filme Cassandra Cat, que quando tira os óculos revela a personalidade dos moradores da cidade.
Percebi que isso ia me bagunçar ainda mais com as cores e deixei ele aqui só como mais uma brisa aleatória assim como o Jigglypuff ali cantando com o microfone desligado.