Enviando coisas para o coração

A arte ganha esse título porque é uma variação da frase inicial de quando o The Prince, em Katamary Damacy, desce a terra para coletar o máximo de objetos para construir uma estrela no céu. Ele é enviado pelo Rei De Todo o Cosmos depois de uma noite de bebedeira e destruição galáctica e sua voz é dublada por um disco arranhado.

A explosão daquele amontado de objetos presos naquela bola mágica sempre foi um atalho para preencher qualquer espaço em branco de uma folha de papel.

Aqui eu uso quase uma ponta única até falhar, poucas partes com uma carga de tinta mais pesada que logo fui abandonando com o tempo. Tinha muito amor escondido nesse período; esse oculto também manifestava-se em agressividade e algumas cenas leves e cotidianas contrastavam recorrentemente com cenários sujos e oníricos. Um sentimento novo que parecia fazer cócegas em uma área sensível do meu cérebro.

Muito do que eu escutava na época registrado, o primeiro do The Smiths, Bowie em Scary Monsters. Vivia metido em roles de Augusta e de pracinha com muita gente aleatória cercado de muita bebedeira e fumaça de todo tipo. A cena do garoto sentado no meio fio se repete, mas dessa vez vazio, somente um monte de sujeira, garrafas e calças skinys passando de lá para cá.

Na passagem dos sonhos da casa recém chegada e mal rebocada, a frequente visita de figuras indígenas que agitavam os meus sonhos com misturas de projeções astrais e paralisias do sono. Existe uma chama ao redor da tatuagem de uma renda na coxa da melhor amiga, a primeira de tantas, com a camiseta da música mais insuportável dos Beatles.

Novamente os barris. Dessa vez identificados todos com o símbolo da falta. Um buraco dentro de mim que me lançava pra todas as direções, como um tapete em que um bêbado tropeça.

Durante os dias úteis, a casa era orquestrada pela mesmo programação na TV e pelas convenções nos mesmos horários: a rotina da sobrinha que começara a andar se agarrando nas coisas, os cochilos depois de arrumar a casa, o ócio criativo das largas horas proporcionado pelo desemprego. Até rolavam algumas consultas no postinho de saúde em horários que só se encontram aposentados e pessoas sem pressa.

Nas faxinas de sexta-feira, misturava-se sabão em pó e um pouco de cândida para limpar o chão. Podia subir do braço do sofá, erguer o cabo de vassoura e ao ficar diante da casa sentir-se o Rei de Todos os Cosmos… vestido inteiramente como um astro da Disco Music.

Para que no repetir de todos daqueles dias iguais, pudesse ser outro, e depois outro, assim como todos aqueles móveis e cantos da casa.